A Paixao de JL 2015 Doc Nacional 1280x720p Aac 48KHz Mkv Makalakato

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Description

Através das lentes dos multifocais consigo reconhecer lá na frente a porteira dos meus 60 anos atravessando uma estrada que ora foi espinhosa, via dolorosa dos pecados de toda uma geração, ora foi forrada de diamantes, via expressa para o prazer e o sorver de tudo de bom que sempre esteve ao nosso alcance.

Já ficou para trás tanta buraqueira nesse caminho acidentado, que eu não sei mais identificar se meu mal estar são saudades do Leo ou da gente, daquilo que éramos e tínhamos pela frente.

Leo – José Leonilson –, artista celebrado em vida e mito "post mortem" da chamada Geração 80, foi meu amigão na juventude. Sentia por ele uma afinidade especial. Éramos praticamente comadres.

Leonilson morreu em 1993. Virou propriedade pública, patrimônio, deixou de ser o confidente com quem eu passava as tardes jogando conversa fora sobre aquilo que nos tocava, mas principalmente nos feria.

Daqueles tempos para cá, minha memória derreteu, foi muita farra seguida de reparação, recaída e reconstrução.

Já não consigo e nem quero mais sentir. Mas de vez em quando milagres acontecem, como há poucos meses, quando um dos diretores da Pinacoteca de São Paulo, Paulo Vicelli, me chamou para visitar a sala com as ilustrações que Leonilson fez para a coluna "Talk of the Town", espaço na página 2 do caderno "Cotidiano" deste jornal, que inaugurei em 1990.

Ficamos só nós, as ilustrações enfileiradas na parede, as lembranças e eu, cara a cara, naquele salão. Matando saudades. Esse encontro com Leonilson foi há uns seis meses. Apesar de minha criminosa falta de memória, as ilustrações trouxeram lembranças de Leo explicando, como se eu fosse retardada, que a ilustração x ou y retratava seu sangue infectado, um tema recorrente depois de ele ser fisgado pelo HIV; lembrei dele também falando da mãe adorada, a quem sempre retratava como figura mastodôntica, representada por montanhas ou formas monumentais.

Tive novo reencontro com Leonilson na semana passada. Desta vez, fui colhida de surpresa por um documentário com características de Lázaro, que me tocou profundamente por fazer ressuscitar em mim neurônios que conseguiram reativar minha memória.

"A Paixão de JL", de Carlos Nader, longa­metragem que faz parte do festival "É Tudo Verdade" e está na Competição Brasileira de Longas e Médias­Metragens, fornece a possibilidade de fazer um tour de luxo pela alma de Leonilson. E, a reboque, pela figura do artista e pelos sentimentos que ele narra com sua candura típica, permitindo que se revisite (ou tome conhecimento) daquelas décadas que nós vivemos com a leveza de quem ainda tem a vida adulta pela frente.
As paixões que moveram as décadas de 80 e 90, o clima político no Brasil, no mundo, a estética, a cultura pop, as motivações artísticas e, em particular, deste artista tão emblemático de seu tempo... Está tudinho ali.

Carlos Nader era muito próximo de Leonilson, convivia com ele, compartilhava de sua intimidade, integrava aquele mundo dos garotos bem­nascidos providos de miolos que Leonilson frequentava e que tudo podiam.

Para fazer seu documentário dispôs de um material luxuoso: o diário gravado pelo próprio artista, que o manteve de 1990 até 1993, quando morreu vítima da Aids. Leo pretendia talvez transformar o diário falado em livro. Não deu tempo. Em "A Paixão de JL", sua voz é que faz as vezes de narrador, ator principal, cenografia e trilha sonora.

Nosso mundinho, as imagens que recheavam o imaginário de Leo, de Carlos Nader, meu e de muitos outros nossos contemporâneos, o David Cassidy, da "Família Dó­Ré­Mi", que Leonilson menciona querer colecionar como miniatura, o filme "Paris, Texas", de Wim Wenders com o Travis andarilho que despertou uma autocomiseração geral na turma, "Asas do Desejo", de Derek Jarman... A certa altura, Leonilson exclama ressabiado: "Nunca gostei de ser bichinha. Eu sou homem".

E era mesmo. Põe machão nisso. Além de particularmente bravo. Se no começo de suas conversas com o gravador os grandes questionamentos são seus amores, uma paixão incessante canalizada pela pulsão sexual, quando se descobre soropositivo ele se volta para outro tipo de "paixão", o Sagrado Coração de Jesus, tema recorrente de sua obra. Leonilson conversa com Deus (de igual para igual, diga­se), procurando desesperadamente se encaixar num mundo que não aceita, mas ainda assim o amedronta.

"Como posso pedir a Deus para segurar a minha barra se ele deixou as coisas chegarem a este ponto? Onde mais vai chegar?", pergunta depois de descobrir no resultado de um exame de sangue que seus linfócitos diminuíram pela metade.

Leo pinta e borda por assuntos como o Plano Collor, a Guerra do Iraque, a novela. Fala em arrependimento e sobretudo no amor, que nunca está à altura de sua fantasia. Carlos Nader mostra um dos bordados do artista: "Leo não consegue salvar o mundo". Lembro que, naqueles anos, não chovia nunca na nossa horta. Em matéria de namorado (ele) e namorada (eu) éramos o retrato da Cantareira atual. Ele aceitava qualquer migalha, eu também me contentava com muito pouco.

Pois, visto que esse era nosso assunto principal, percebo no documentário pelo tanto de namorado loiro e estrangeiro mencionado (um clássico) que minha orelha lhe foi tão útil quanto o gravador.

Na tela surge mais uma imagem típica de suas pinturas, um coração, depois mais uma obra de Leonilson exibindo um cordão umbilical que liga duas figuras masculinas e daí vem um bordado com uma gotícula que pode ser gota de sangue como pode ser lágrima. O artista está morrendo, ele liga o gravador e descreve o que sente, o que vê quando abre os olhos. Ele está deitado na cama do hospital.

Em seguida vem o vazio. "Nenhuma direção para correr".

Barbara Gancia
http://folha.com/no1616880

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