Cristiano Burlan - O Homem da Cabine (2008)

“Ninguém lembra do operador. Só quando para a máquina”, Assim um entrevistado resume precisamente o status dos protagonistas de “O Homem da Cabine”. Os operadores cinematográficos, ou projecionistas, são profissionais da imagens condenados à invisibilidade.
O documentário de Cristiano Burlan rompe com isso. Vemos e sobretudo ouvimos cerca de uma dezenas de projecionistas em atividade em São Paulo, no final da década passada.
“O Homem da Cabine” entrelaça vários registros. Um é o existencial, apresentando suas histórias de vida, na maioria da vezes marcadas pela origem modesta e pela formação autodidata, e mesmo seus gostos pessoais, de faroestes e filmes de ação a Ettore Scola e Kiarostami.
Outra dimensão é antropológica. Pacientemente Burlan registra uma prática profissional, a da projeção de filmes em celulóide, com suas bobinas, lâmpadas xenon e grandes projetores.
Naquele momento, há menos de meia década, já surgia no horizonte a transição para o cinema digital. Quem diria que tão rapidamente o modo de trabalho filmado por Burlan se tornaria obsoleto.
As memórias dos homens da cabine nos remetem a outras eras passadas, como a da projeção com carvão, a dos cinemas monumentais, a da presença cotidiana dos bedéis da ditadura. Ao falarem do presente, não poderiam saber contudo que, num piscar de olhos, estavam compondo um belo e pioneiro epitáfio para a era do celulóide. - Amir Labaki